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CONTRACEPTIVOS HORMONAIS E SAÚDE CARDIOVASCULAR DA MULHER

Autores: Priscilla Araújo dos Santos, Alice Miranda de Oliveira, Josias Melo Leite, Daniell Lima Costa Muniz, Juliane Santos Barbosa e Daniela Santos de Jesus.


A ascensão no mercado dos métodos contraceptivos hormonais desde a década de 60 trouxe mais liberdade e poder de decisão para as mulheres, passando a ser a forma de contracepção mais utilizada pela população brasileira. Os benefícios desses métodos para o planejamento familiar e a regulação de distúrbios menstruais são bem difundidos, no entanto, o seu uso está associado ao risco aumentado para doenças cardiovasculares. Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia, as doenças cardiovasculares são responsáveis por 30% das mortes do sexo feminino no Brasil e já ultrapassam as estatísticas de câncer de mama e de útero.


TIPOS DE CONTRACEPTIVOS HORMONAIS

Os contraceptivos hormonais estão acessíveis em grandes variedades e em diferentes formas de utilização. Podem ser diferidos por sua concentração (taxa ou combinação de hormônios) e/ou vias de administração (oral, intramuscular e sob forma de implantes). Destacamos aqui, de forma sucinta, os métodos hormonais mais utilizados:


  • Contraceptivo Oral (CO): É um dos métodos mais populares no mundo e de acordo com a literatura, a prevalência de uso do CO no Brasil é de 28%, considerando a forma mais utilizada no país. A formulação do CO pode ser constituída pela associação de dois hormônios sintéticos, o estrógeno e a progesterona, que se apresentam na maioria das pílulas como etinilestradiol e progestágeno, respectivamente, sendo denominados de Contraceptivo Oral Combinado (COC). Ou pode ser constituída somente por progestágeno, este atua inibindo a ovulação, além de causar alterações no endométrio e muco cervical, impedindo dessa forma a concepção.

  • Contraceptivo Injetável (CI): É outra alternativa para a prevenção da gravidez indesejada, utilizado por cerca de 5% da população feminina brasileira. O CI também pode ser constituído pela associação dos dois hormônios sintéticos supracitados, ou apenas por um deles. A finalidade é inibir a ovulação e provocar alterações no muco cervical, impedindo a passagem do espermatozoide.

  • Minipílula: Contraceptivo em forma de pílula, composto apenas por progestágeno que atua impedindo a ovulação e, desta forma, a concepção. Ela é indicada principalmente para mulheres que tenham comorbidades associadas ou que estejam amamentando.

  • Pílula do dia seguinte: É um método contraceptivo de emergência, logo, não deve ser utilizado de forma contínua. Ela age de formas diferentes de acordo à fase do ciclo menstrual da mulher, podendo inibir a ovulação e alterar o muco do colo uterino.


CONTRACEPTIVOS HORMONAIS E DOENÇAS CARDIOVASCULARES

A população feminina compartilha de diversos fatores de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Esses fatores podem ser divididos em não modificáveis: idade, sexo e histórico familiar, e em fatores modificáveis: Hipertensão Arterial Sistêmica, Diabetes Mellitus, Dislipidemia, Obesidade, Inatividade Física e Tabagismo. As associações entre os fatores modificáveis e o uso de contraceptivos hormonais vêm sendo estudados e Segundo a Diretriz Brasileira de Prevenção Cardiovascular os efeitos deletérios do fumo, por exemplo, são maiores nas mulheres que fazem uso de contraceptivos hormonais, da mesma forma que, as complicações (Infarto do Miocárdio e Acidente Vascular Cerebral) em mulheres com comorbidades associadas ou doença de base (Hipertensão Arterial Sistêmica, Diabetes Mellitus, Dislipidemia) que são usuárias dos contraceptivos hormonais.

Desde 2013, nosso grupo de pesquisa tem desenvolvido estudos que sugerem que mulheres sem outros fatores de risco, em uso de COC, apresentam: maior valor de proteína C reativa, de lipemia pós-prandial, de lipoproteína de baixa densidade oxidada e diminuição da sensibilidade insulínica, quando comparadas a mulheres que não fazem uso de COC.

Nesse sentido, estudos também demonstraram associação clara entre o uso de COC e o aumento de risco para Trombose Venosa. Os hormônios que compõem os anticoncepcionais combinados induzem alterações significativas no sistema de coagulação. O etinilestradiol, especificamente, acarreta no aumento de trombina, aumento dos fatores de coagulação (fibrinogênio, VII, VIII, IX, X, XII e XIII) e redução dos inibidores naturais da coagulação. Já os progestágenos estão associados ao desenvolvimento de resistência adquirida à proteína C ativada mais pronunciada e a uma tendência de produzir níveis mais altos de fatores de coagulação e níveis mais baixos de anticoagulantes naturais.

Outra condição vascular importante é a Trombose Arterial. Mulheres que possuem os fatores de risco modificáveis e fazem uso associado de COC, possuem risco aumentado para o desenvolvimento da trombose arterial e consequentemente, potencializa o risco de infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral.

Ademais, estudos mais antigos já sugeriam que uso da pílula anticoncepcional promovia Aumento na Pressão Arterial, visto que os contraceptivos hormonais provocam alterações hemodinâmicas no organismo feminino, como aumento do volume plasmático e do débito cardíaco. Uma das explicações para este aumento na pressão arterial sistêmica é que a presença do etinilestradiol na circulação sanguínea, eleva a atividade da renina e a síntese hepática do substrato de renina, por consequência aumenta a produção de angiotensina II, que é um potente vasoconstritor. Além desse mecanismo, a angiotensina II ao se transformar em angiotensina III, induz a produção de aldosterona pelas suprarrenais, o que em concomitância com o aumento da produção do hormônio antidiurético (vasopressina) elevam a reabsorção de água pelos túbulos renais, favorecendo também a elevação da pressão arterial. Estes fatos servem como alerta a mulheres com diagnóstico prévio de Hipertensão Arterial Sistêmica, pois o uso de contraceptivos contendo etinilestradiol, pode piorar o prognóstico da doença e potencializar o risco para trombose arterial.

Contudo, as complicações adversas supracitadas dependem da combinação e dosagem hormonal do contraceptivo, e do estado de saúde de cada mulher. Afinal, a prescrição adequada do contraceptivo hormonal deve reputar as individualidades de cada usuária.


RECOMENDAÇÕES

A presença de fatores de risco ou uma condição clínica de doença de base devem ser analisados no momento da escolha de um método contraceptivo. Destacamos aqui a importância de mulheres com risco aumentado para doenças cardiovasculares, serem acompanhadas por um cardiologista e um ginecologista para a escolha do método mais seguro e adequado, levando em consideração sua condição de saúde, doenças pré-existentes, idade e necessidades reprodutivas.

Outra recomendação importante é estar sempre em dia com os exames de rotina. O indicado é que, em média, pelo menos uma vez ao ano esses exames sejam realizados. Eles permitem avaliar o estado geral de saúde da mulher e identificar precocemente possíveis doenças e/ou fatores de risco.

Finalmente, elucidamos que a prevenção é o melhor caminho para combater o desenvolvimento das doenças cardiovasculares. Um passo significativo nessa direção é adotar hábitos de vida saudáveis, como por exemplo: prática rotineira de exercício físico, alimentação equilibrada e boa qualidade de sono. Tais hábitos influenciam diretamente na qualidade e expectativa de vida, e também devem ser assistidos por profissionais especializados.



VOCÊ SABIA?

Em 14 de maio é celebrado o Dia Nacional da Conscientização das Doenças Cardiovasculares na Mulher. Um projeto de lei desenvolvido com o intuito de promover ações por parte do poder público, juntamente com a Sociedade Brasileira de Cardiologia, sociedade civil e outros parceiros, como palestras, eventos e treinamentos sobre as Doenças Cardiovasculares na Mulher, viabilizando o diagnóstico precoce.


REFERÊNCIAS

United Nations, Department of Economic and Social Affairs, Population Division (2019). Contraceptive Use by Method 2019: Data Booklet (ST/ESA/SER.A/435).

Ministério da Saúde [homepage na Internet]. Pesquisa nacional de demografia e saúde da criança e mulher (PNDS): Atividade Sexual e Anticoncepção. 2006. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/pnds/atividade_sexual.php

Simão AF, Précoma DB, Andrade JP, Correa Filho H, Saraiva JFK, Oliveira GMM, et al. Sociedade Brasileira de Cardiologia. I Diretriz Brasileira de Prevenção Cardiovascular. Arq Bras Cardiol. 2013: 101 (6Supl.2): 1-63

Avila WS, Alexandre ERG, Castro ML, Lucena AJG, Marques-Santo C, Freire CMV, et. al. Posicionamento da Sociedade Brasileira de Cardiologia para Gravidez e Planejamento Familiar na Mulher Portadora de Cardiopatia – 2020. Arq Bras Cardiol. 2020 Arq Bras Cardiol. 2020; 114(5):849-942.

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